TRINDADE X UNICISMO
Quem não está pelo menos um pouquinho familiarizado com a história da igreja, não imagina o debate que surgiu por um longo tempo em cima destas duas palavras acima.
Enquanto a doutrina da trindade foi codificada por um pai da igreja chamado Tertuliano, a doutrina unicista se tornou popular através de um homem chamado Sabélio. Veremos abaixo uma rápida definição sobre o sabelianismo, que gerou a doutrina unicista:
O SABELIANISMO
O sabelianismo, um movimento religioso organizado por Sabélio, cerca de 375, confundia a pessoa de Cristo apenas com uma faceta ou manifestação de Deus. Ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e a mesma essência, três nomes apenas dados a uma só pessoa, a mesma substância. Propõe uma analogia perfeita tomada do corpo, da alma e do espírito do Homem. Sabélio propôs uma ilustração, comparando o que ele entendia por três manifestações divinas da seguinte forma: “O Pai seria o sol, o Filho os raios e o Espírito Santo o calor”.
Atribui-se a frase: “Deus, com respeito á hipótese é um mas foi personificado na Escritura de várias maneiras segundo a necessidade”.
UNICISMO
Como já sabemos, o unicismo entende que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três manifestações de uma mesma pessoa. As religiões unicistas pregam que existe um Deus que se manifestou no Antigo Testamento como Pai, no período da nova aliança como Filho e depois do dia de Pentecostes como Espírito Santo.
Para o adepto do unicismo, a doutrina da trindade é considerada politeísmo. O unicista entende que o trinitariano adora três deuses, por isso ele rejeita tal ensinamento. Hoje existem movimentos e algumas igrejas que aceitam a doutrina unicista, como: Adeptos do nome Yehoshua, grupo Voz da Verdade, Igreja Evangélica Cristo Vive, etc.
O QUE DIZ A BÍBLIA
Como bons cristãos que devemos ser, a semelhança dos crentes de Beréia, devemos sempre conferir nas Escrituras aquilo que ouvimos. O problema da maioria dos adeptos de algumas religiões, é que sempre colocam suas opiniões pessoais e de suas seitas acima do que diz a Bíblia. Para estes, a verdade não é conveniente, e sim o que aprenderam em suas religiões. Jesus é apenas uma manifestação de Deus ou é uma pessoa, junto com o Pai e com o Espírito Santo? Primeiro, vamos ver o significado das palavras. O nome Jesus vem do hebraico Yehoshua, que significa salvação de YHWH. O termo, após o exílio babilônico, passou a ser Yeshua, o que podemos ver nos escritos pós-exílio. O equivalente grego, nos manuscritos do Novo Testamento, é Iesous. Iesous é a forma como a Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) chama Josué. Então nós começamos a entender que, se o próprio nome Yehoshua (Jesus) significa salvação de YHWH, obviamente ele não é YHWH.
Vejamos alguns textos da Bíblia para vermos claramente o que ela fala sobre o assunto: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; juízo produzirá entre os gentios” (Isaías 42:1). Sabemos que este texto se refere ao Messias, que é Jesus Cristo. Vejamos que o próprio YAHWEH está chamando o messias de seu servo e de seu eleito. Ora, como o messias seria uma manifestação de YAHWEH, se YAHWEH o chama de seu servo e de seu eleito? Vejam que o texto mostra uma pessoa (YAHWEH) se referindo a outra (O Messias). Vejamos novamente o que diz Isaías, o profeta messiânico: “O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” (Isaías 61:1). Mais uma vez vemos pessoas, e não manifestações, presentes no texto. Jesus mesmo disse que esta profecia se referia a ele (Lc 4:14-21). Então o texto nos mostra o Espírito do Senhor (Uma pessoa) sobre o Messias (outra pessoa) porque o Senhor Deus (outra pessoa), havia ungido o Messias. Ora, a interpretação unicista deste texto ficaria estranha, pois uma manifestação (Senhor) ungiu outra manifestação (Messias) com uma terceira manifestação (Espírito do Senhor). O unicista deveria prestar mais atenção aos textos bíblicos e não fazer malabarismos com a hermenêutica para tudo se encaixar com a sua filosofia.
Vamos ver agora alguns textos do Novo Testamento, que deixarão este assunto ainda mais claro. Eis o que diz o texto bíblico: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:16-17). Sejamos honestos com o texto: Estamos vendo aqui três seres diferentes ou três manifestações? Para vermos três manifestações, mais uma vez teremos que dar uma “torcidinha” nas palavras e no texto. Vejam que o texto mostra Jesus recebendo o Espírito Santo e ouvindo que seu Pai se agrada do seu comportamento. O unicista consegue ver uma manifestação de Deus se dirigindo a outra manifestação e dizendo que se compraz nesta segunda manifestação (o messias) e enviando sobre ele uma terceira manifestação (O Espírito). Novamente vejamos o que diz o evangelho de Mateus: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:32-33). Para quem interpreta a Bíblia de forma honesta, vai ver que existem quatro pessoas distintas no texto: O que negar, o que confessar, o Pai e o Filho. Percebe-se que o Filho vai confessar diante do Pai aquele que lhe confessar na Terra. Ora, se Jesus fosse uma manifestação do Pai, ele confessaria diante de si mesmo, não diante de Deus.
Jesus nunca disse ser uma manifestação do Pai. Para quem tem o hábito de ler os evangelhos, fica claro que Jesus sempre se dirigia a Deus como seu Pai e como seu Deus. Não existe nenhuma referência nos evangelhos onde Jesus diz que Ele é o Pai e que é apenas uma manifestação de Deus. Vejamos novamente: “E Jesus respondendo disse: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (Mateus 16:17). Novamente Jesus deixa bem claro que seu Pai é uma pessoa, que está nos céus, enquanto ele é outra pessoa, que está na terra. Poderíamos citar dezenas de referências do Novo Testamento, mostrando Jesus se distinguindo do Pai, mas, para quem ler e entender as citadas acima, será suficiente.
DISTINÇÃO DE PESSOAS, MESMO FORA DO MINISTÉRIO TERRENO DE JESUS
O Unicista insiste em dizer que o Jesus terreno (que habitou na terra) é apenas uma manifestação de YAHWEH. Então, fica claro que, para o unicista, fora do corpo humano, Jesus não é uma manifestação de Deus, mas é o próprio Pai. Será que a Bíblia diz isto? Vejamos novamente: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, o Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17:4-5). Ora, se o Messias é apenas uma manifestação de um mesmo ser, como este Messias diz que, antes de estar na Terra, já tinha uma glória junto com o Pai antes que o mundo existisse? Se Jesus é apenas uma forma de manifestação de Deus durante 33 anos, jamais ele poderia ter uma glória com o Pai antes que o mundo existisse. Fica claro que, antes de Jesus vir a Terra, Ele já existia junto com o Pai. Aliás, Jesus já existia com o Pai na eternidade antes do mundo ser criado. Então, Ele não é uma manifestação que durou 33 anos, mas sim uma pessoa, distinta do Pai e do Espírito Santo. E o unicista concorda que seria “distorcer” demais o texto de João 17 interpretar uma manifestação falando consigo mesmo. Temos claramente uma pessoa (Jesus) se dirigindo a outra pessoa (o Pai).
Ora, se o Jesus humano é uma manifestação do ser divino, então, quando Jesus se apresenta como divino, não haveria mais distinção entre Pai e Filho, pelo fato de o segundo ser apenas uma manifestação do primeiro. Mas percebam que a Bíblia mostra o contrário: “E transfigurou-se diante deles e o seu rosto resplandeceu como o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés e uma para Elias. E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo: Escutai-o” (Mateus 17:2-5). Vemos aqui Jesus se manifestando de forma divina aos três apóstolos mais chegados. Porém, mesmo em forma divina, o Pai ainda se dirige a Ele como Filho e diz que se compraz (tem prazer) nele. Vamos inventar que aqui são manifestações para continuar acreditando no unicismo que nos foi ensinado ou vamos interpretar o texto segundo o que está escrito?
Agora vamos ver o que Paulo pensava sobre o assunto: “Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (I Coríntios 15: 27-28). Ora, se no futuro, o Filho se sujeitará ao Pai, como o Filho é apenas uma manifestação do Pai? Uma manifestação não se sujeita a outra, mas uma pessoa sim. Vejamos o que diz o apocalipse: “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo” (Apocalipse 1:1). Ora, temos aqui Jesus no céu, já em corpo glorificado, assim como já era antes de vir ao mundo. Se Deus apenas enviou uma manifestação de si mesmo ao mundo, obviamente, quando Jesus deixou o mundo, não teríamos mais a “manifestação divina em Jesus”, apenas no Espírito, a terceira manifestação, segundo o unicista. Porém, vemos aqui, de forma clara, a introdução ao livro de Apocalipse, mostrando que o livro é uma revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu. Seria engraçado Deus se manifestando em um outro ser, não onisciente, que precisaria de uma revelação. Deus revelando a si mesmo algo que outra manifestação sua não sabe. É engraçado, mas é o que o unicista faz com este texto de fácil compreensão.
JESUS É DEUS, MAS NÃO É O PAI
Ficou claro pelas referências acima que Jesus não é o Pai. Jesus é o Filho, o Messias, o Cristo, e sempre se distinguiu de Deus Pai e do Espírito Santo. Chegou a dizer que se alguém blasfemasse contra ele (Cristo) haveria perdão, mas se blasfemasse contra o Espírito Santo não haveria perdão. Portanto, não são manifestações, mas pessoas distintas.
Deus é apenas um (Dt 6:4; Ef 4:6), porém subsistindo em três pessoas (2 Co 13:13; Mt 28:19). Com isto não temos três deuses, mas três pessoas. Assim como duas pessoas não formam dois casais, mas apenas um casal, o Pai, o Filho e o Espírito não formam três deuses, mas um Deus. Ao fazer o homem Deus disse: FAÇAMOS. Ao descer para confundir as línguas ele disse: DESÇAMOS. Ao chamar Isaías, Ele disse: Quem há de ir por NÓS? Quando o homem pecou, ele disse: O homem é como um de NÓS. Portanto, temos uma pluralidade de pessoas. O próprio termo único, usado em Dt 6:4 para dizer que há um só Deus, é o mesmo termo usado para uma só carne, em gênesis, referindo-se ao casal.
Temos várias referências bíblicas provando a divindade de Jesus (Jo 1:1; Jo 5:18; Jo 8:58; Jo 20:28; At 20:28; Tt 2:13; 2 Pe 1:1; I Jo 5:20) e temos outras tantas mostrando que ele não é o Pai. Portanto, o unicista não deve inventar algo que a Bíblia não diz apenas porque não consegue entender como isto funciona. Sejamos humildes para aceitar o que a Bíblia diz e não ousarmos mudar a verdade revelada, apenas para não contrariarmos as nossas religiões. |